15 dias depois [novas rotinas]


Está quase a fazer duas semanas que mudámos de casa, de país, de rotinas. Ainda nos estamos a adaptar, outra coisa não seria normal. A adaptar ao clima [tenho tanto frio na rua!], à língua [não percebo um charuto], às rotinas [ir às compras à Alemanha não deixa de ser curioso], aos horários e ao uso dos transportes públicos. E estamos a adaptar-nos bem, posso dizê-lo.

Temos saído de casa antes das 8h30, os quatro. Saímos para levar as miúdas e depois eu e o Bernardo seguimos juntos para o centro da cidade, onde ambos trabalhamos: ele num escritório com dezenas de pessoas, eu no café-restaurante que fica no piso 0 da biblioteca; belo posto de trabalho o meu, custa-me um capuccino [e 6 euros] por manhã.

Almoçamos os dois em casa, ou pelo menos pretendemos fazê-lo o maior número de vezes possível porque é incomportável pagar 50-60 euros por refeição, todos os dias. Depois, à tarde, vou para outro café bonito que fica ao cimo da nossa rua até ficar demasiado barulho e vir para casa tratar do jantar. É perfeitamente normal, super comum, ver pessoas a trabalhar, ler ou escrever nas mesas de café. E para mim é o melhor sistema. Se ficar em casa, além de ainda ser desconfortável porque não está equipada para isso, distraio-me. Entre fazer as camas, arrumar isto e aquilo, por uma máquina a lavar, fazer o almoço, etc. lá se vai o foco. Podia ficar, poupar os francos e trabalhar de pijama no sofá, mas não quero; prefiro acordar de noite, viver a pressa típica das manhãs, gelar o nariz mal ponho o pé fora do prédio. Prefiro, sem sombra de dúvida. Acompanho as miúdas, ganho tempo em família e disciplino-me no que tenho a fazer.

Elas estão bem. Depois do entusiasmo inicial no colégio, a Constança tem feito beicinho mas nós desvalorizamos e ela fica. Come bem e de tudo, mesmo sendo a cozinha suíça um bocado estranha, para nós. Já a Camila, nem por isso. Ando a esforçar-me nas sopas para ver se recupera o apetite e hoje até levou comida de casa. Não sei o que se passa.

Nós os dois, que antes só nos víamos uma vez por mês e, antes disso, apenas de manhã e à noite, também. Passamos muito mais tempo juntos. Conversamos mais, rimos mais, abraçamo-nos mais; estamos mais próximos do que nunca. Andamos muito a pé [o carro ficou em Portugal]. Ontem fiz as contas: 45 minutos por dia, mais coisa menos coisa, maravilha de exercício físico. Nos primeiros dias até me doíam as pernas de caminhar. Também trabalho muito mais em casa. Lavo, limpo, arrumo, cozinho incomparavelmente mais. Não é que me importe, até gosto e desligo a cabeça enquanto o faço, mas rouba-me tempo para outras coisas e no fim de um dia inteiro à volta da roupa e da lida da casa acabo meio deprimida e irritada por não ter conseguido fazer mais nada. Nesta esfera ainda me falta algum equilíbrio, uma arca frigorífica e… uma bimby.

Eu queixo-me mas a casa é o que mais me ocupa, adoro esta fase de casa nova. Queixo-me do trabalhão [ainda ontem passei a tarde na faxina e acabei morta de cansaço], queixo-me deles, que sujam e desarrumam demasiado rápido esta sala, mas eu sei que é uma coisa mais forte do que eu. Preciso da harmonia, da ordem, do belo; o caos faz-me comichão. Se estou em casa, não consigo evitar cirandar pelas divisões a colocar tudo nos seus lugares [por isso saio]. Os quartos estão equipados e semi-decorados, muito ikea, poucos luxos, faltam uns candeeiros e pouco mais. Já na sala, apesar de ter propositadamente pouca coisa, falta quase tudo. Temos tempo. E eu com o projeto de viver com menos, mais simples e bonito sempre presente. Esta é a oportunidade perfeita para destralhar.

Ouvimos muita música. De todos os géneros. Não temos tv [o colégio também não] e nem pretendemos ter tão cedo; no topo das prioridades estão outras coisas bem mais essenciais. A Constança nem reparou. Em contrapartida, passou a prestar muito mais atenção ao que ouve e eu ando a ensinar-lhe os instrumentos numa espécie de jogo que o meu pai fazia comigo. Volta e meia lá pede o Ruca e vê os vídeos no iPad. A Camila dá gritos de alegria.

E eu? Também estou bem. Feliz por passarmos a ser realmente uma família de quatro. Aliviada por finalmente ter acabado o período de maternidade a solo. Inspirada por esta cidade e por este país e pelas inúmeras possibilidades de descoberta, aprendizagem e experiência de vida. Satisfeita pela forma como as coisas estão a correr no atelier e por finalmente poder abrandar o ritmo de trabalho, menos noitadas, menos madrugadas, mais focada no que realmente tenho que fazer para acrescentar valor e desenvolver o meu negócio. Preocupada com coisas terrenas como os 20 graus negativos que anunciam, como equipar as miúdas para este frio na rua, o que fazer para o jantar… outra vez. Um pouco angustiada também pelo custo de vida, é impossível não sentir o impacto dos preços, mas dizem que ao fim de algum tempo uma pessoa habitua-se. Acredito.


6 comentários a “15 dias depois [novas rotinas]”

  1. Olá Ana,

    Revejo-me muito no seu dia-a-dia e na experiência que está a viver. Estou a viver desde Maio na BÉLgica e tenho um bebé de 13 meses que acaba de entrar na creche também. Para além disso, acho que pensamos de forma muito parecida relativamente às rotinas/quotidiano: de trabalho, limpeza, organização, educação dos filhos. Tenho que elogiar também a sua marca: está de babar esta colecção <3 algo a que já nos tinha habituado com a Ma Petite princesse. Desejo-lhe o mesmo que para mim: rápida e feliz adaptação, muita sorte, sucesso e tudo a correr bem! Ahhh…e não deixe de ir "relatando" tudo. É um exercício tão bom este de colocar os pensamentos, vivências para papel e porque, e mais importante, adoro" lê-la" 😀

  2. Ao ler o seu blogue, revejo-me… estou também a viver na suiça, perto de zurique, há quase 3 meses. Tenho 2 filhas de 4 e 7 anos. E todas as dificuldades que encontramos para nos adaptar são semelhantes.
    Muitos parabéns, tudo de bom, e vou continuar a ler as suas “Aventuras”… e pensar que são parecidas com as minhas! 🙂

  3. Olá,

    Gosto muito de ler o blog.

    Gosto de ler sobre a experiencia de vida de todos e gostava de ter a sua força e vontade.
    Neste momento creio que estou a entrar numa fase má no emprego (em riscos de fechar) e queria muito ter essa força de vontade para sair deste país que é o nosso mas que nos está a expulsar (a dizer isto vêm me as lágrimas aos olhos), para poder dar tudo o essencial ao meu bébé.
    se calhar se fosse nesta altura não lhe ia custar muito, pois anda não tem 2 anos, mas custa não ter apoios e estar longe.

    mais uma vez, força nesta nova fase e boa sorte 🙂

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