do medo


Não sou uma rapariga de ter medos. Nunca fui. Não tinha medo de ir para a escola a pé. Não tinha, nem tenho, medo de pôr uma mochila às costas e ir de viagem sem nada marcado, com uma amiga, com ele ou até os três. Não tenho medo de estar num lugar onde não pertenço, de falar com um desconhecido ou de apanhar o metro à noite, nem em Lisboa, nem em Nova Iorque. Não tive medo quando era, tantas vezes, a única branca dentro de um autocarro. Nem quando fui a uma discoteca gay, tão gay, como eu nunca tinha visto. Não tive medo de ir grávida para Cuba e andar muito de camioneta, de vaguear na Cidade do México ou em Marraquexe, só as duas, mulheres. Já quanto a animais, tenho mais medo de um pássaro a esvoaçar ou de um gato desconfiado do que de ratos e de aranhas. Também nunca tive medo de viver sozinha ou de estar sozinha em casa. Nestas temporadas de mãe solteira, não tenho medo, algum, de não dar conta do recado. Mas, desde que ele [o Pai] se foi e que ela [a Constança] existe, tenho [ainda mais, muito mais] medo de uma coisa. Da minha morte.


4 comentários a “do medo”

  1. […] mas assustadora também. Podem ser tantos os receios, as inseguranças, os medos [eu já confessei aqui qual passou a ser o meu maior medo, depois que fui mãe], dúvidas aparentemente tão patetas […]

  2. Como eu te compreendo. É preciso cuidar da saúde. Não se tem medo da morte por nós. Temos medo da nossa morte, pelos outros. Mas… Lá está… Ninguém é insubstituível… E há quem tenha sobrevivido em muito piores condições… É apenas mais um medo… Mas como a palavra diz: é MEDO. 🙂

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