[pensamentos no comboio] de regresso a casa


Vim a Lisboa a trabalho e fiquei mais uma noite. Troquei a cama de hotel pelo colchão insuflável na sala de estar dos amigos. Troquei o room service ou um jantar num restaurante da moda por uma pizza feita em casa, improvisada, entre três amigos, dois rapazes de meio metro, umas minis e copos de vinho tinto. Saí de casa a pé, tomei o pequeno-almoço na Padaria Portuguesa, fingi viver em Campo de Ourique. Ainda não foi desta que conheci o mercado renovado mas, em contrapartida, encontrei clientes queridas e talvez o melhor do meu dia tenha sido ver a minha *mpp*, o meu logótipo em fundo cor de rosa, no wallpaper do telemóvel de uma futura-mãe simpática [que mais uma marca pode querer?]. Andei de táxi pelas ruas das cidade, reparei que há mais prédios abandonados, o que lamento; reparei que há mais cafés, hamburguerias e restaurantes com conceito que fico com vontade de experimentar, da próxima vez.
Agora, sentada nesta carruagem de comboio vazia, ouço a minha música e penso na vida, nos dias de castigo e nos dias felizes. Penso como seria se, há 8 anos atrás, eu não tivesse trocado a capital pelo norte do país, ou como seria se eu agora voltasse, com a família pela mão e os nossos sonhos e projetos. Provavelmente iria ser bom, outra vez; passaria a fazer sentido. Mais: far-me-ia bem. A verdade é que Lisboa trata-me com carinho e, sim, eu gosto de estar aqui. Voltar a Lisboa é voltar a outra parte de mim, distinta, hoje meia adormecida, mas que está sempre lá; tem momentos que eu nem sei onde é que me sinto verdadeiramente em casa. Como hoje, ou como há seis meses atrás, quando escrevi assim: Gosto de estar aqui. Aqui sou eu e apenas eu. Aqui não tenho qualquer família, portanto não sou filha, não sou irmã, não sou neta, não sou sobrinha. Não sou mãe nem mulher, deixei os meus dois amores em casa. Não estando tão ligada, sou mais livre. Não estando tão perto, sofro menos. Então sou mais amiga, eles [os amigos] estão quase todos cá. Sou mais curiosa, sou mais desperta, mais ativa, mais criativa. Sou mais feliz, confesso. Porque sou muito mais eu.

2 comentários a “[pensamentos no comboio] de regresso a casa”

  1. Dou por mim a pensar tantas, tantas vezes em gostar de me sentir assim…nem que seja só por um bocadinho,

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *