e tudo [re]começou hoje


Ontem, dia 31 de Março. Um ano depois de voltar de licença de maternidade despedi-me das caras bonitas e sorridentes que sempre me receberam tão bem. Naquele dia, mãe da Constança com 5 meses, gostei muito de regressar. Fui muito acarinhada e a sensação de retomar as rotinas de um escritório e as andanças da publicidade foi boa, mesmo boa. Senti-me como um peixe que volta a nadar no seu aquário, familiar, confortável, seguro. 
Mas tempo foi passando, os dias tornaram-se cada vez mais exigentes e eu cada vez mais dividida, os dois lados do cabeça e do coração em conflito, muito conflito interior, querer estar em duas coisas que se revelavam cada vez mais incompatíveis, querer ter o poder da ubiquidade, querer muito, por um lado este meu bebé, por outro um novo desafio, giro, mas eu cada vez mais cansada, muitos quilómetros, muitas noites fora, a casa caótica… uma confusão. Nem eu sei como consegui gerir tanto e durante tanto tempo. 

Tinha dois pássaros na mão que não podia prender mais e então larguei um. O ciclo havia de terminar ali. Agora que escrevo sobre o assunto tenho de ser sincera: na verdade, fui largando. Aos poucos, mais ou menos sem dar conta, se calhar até começou naquele dia precisamente há um ano atrás em que eu gostei tanto de voltar. Talvez. Não há super-mulheres. Nem super-mães. Ou super-profissionais. E chega um momento em que uma pessoa pára [tem de parar] para escutar o coração. Pum-pum. O que me move? Onde sou mais precisa? Qual a razão dos meus días? Pum-pum. Afinal, se não for o coração a falar mais alto, que raio de sentido faz a nossa existência?

Não fiz grandes despedidas nem me alonguei nos adeus e nos abraços. Foi de propósito, quis sair de fininho. É que eu conheço-me, sou de lágrima fácil, e isto de desligar o computador, fechar a gaveta e arrumar a cadeira sabendo que não vou mais voltar, custa. Quem fica [e quem me deixou ir], sabe que estou bem. Sinto que tenho uma vida nova pela frente, cheia sonhos, projetos e ilusões. Mas mentiria se escondesse este nó na garganta. Porque apesar de todos os dias menos bons, eu gostava de trabalhar ali, com todas aquelas pessoas. Vou ter saudades.

Hoje, primeiro dia de Abril, não houve sol, nem jantar na varanda, nem o cheiro das flores. O tempo não esteve bom e eu passei demasiado tempo a arrumar papelada e nas filas da loja do cidadão. Mas pude almoçar na avó, buscar a minha filha ao colégio, conhecer melhor a educadora nova e levá-la a visitar os tios, com tempo, sem grande pressa. Ainda me estou a habituar à ideia de passar a primavera noutro ritmo mas, eu sei, será muito bom. E a sorte protege os audazes, dizem.

[imagem retirada deste blog]

16 comentários a “e tudo [re]começou hoje”

  1. Olá Ana, sigo o seu blog e já nos conhecemos no Lisbon Kids Market. Também tenho um filho da idade da Constança. Não podia deixar de comentar, muitos parabéns pela sua coragem e decisão. A minha vida profissional é bastante atribulada e preenchida e não sei se algum dia terei tal coragem e audácia (acho que nunca terei). Um beijinho e muito boa sorte nesta nova fase. Raquel

  2. Não podia deixar de comentar e desejar-te a maior das sortes nesta nova fase. Não há decisões fáceis e ter a coragem que tiveste não é para todas. A sorte protege os audazes e o Mundo faz-se de pessoas empreendedoras e sonhadoras como tu! um beijinho*

  3. Olá Ana, sigo o blog há algum tempo, mas nunca comentei…este post fez-me sentir uma profunda admiração, pela coragem, pelo confronto com o medo do que vem a seguir! Fico a torcer para que corra tudo bem, e espero um dia ter a mesma coragem! Um beijinho cheia de energia positiva!! Madalena

  4. Parabéns pela decisão, Ana, e muita força agora! Eu não acredito em super-poderes… acho que o que temos de fazer é escolhas e depois ter a coragem (e auto-disciplina) de levar as decisões para a frente. Espero que o teu dia-a-dia agora fique mais livre, mais pacífico e mais estimulante. Boa sorte!!

  5. Ana, não existem decisões certas ou erradas. Existem apenas as que nos fazem ou não sentido. A tua fez-te sentido e, quando assim é, é seguir em frente, com coragem e um sorriso, porque só pode correr bem. Também tenho mudado a minha vida muitas vezes, ao longo dos últimos anos. Mudei um bocadinho com o primeiro filho, mais um bocadinho com o segundo, mudei muito quando vieram os gémeos, e neste momento estou a mudar outra vez porque havia ainda muita coisa que não fazia sentido. A vida é (ou deve ser) esta constante mudança para melhor, sendo o melhor apenas e somente aquilo que nos faz mais feliz em cada momento. Um grande beijinho e que corra tudo muito bem, nesta nova etapa :). Um beijinho também à tua filhota linda.

  6. miúda, tudo o que nós decidimos para nos sentirmos melhor é a nossa melhor opção! believe me! follow your dream… always!

  7. decisões deste tipo muitas vezes são difíceis, eu sei isso por experiência própria, também vou adiando a minha decisão.. parabéns por teres tomado a tua! te admiro por isso, de verdade 🙂
    um forte abraço.

  8. Ana,
    Há cerca de 2 anos e meio atrás tomei uma decisão parecida (ainda que em circunstâncias e por motivos muito diferentes) e – acho sempre piada a estas coincidências que nos ligam a pessoas que conhecemos sem conhecer – também larguei a publicidade (mas do lado da agência). A minha vida deu muitas voltas entretanto e hoje estou, novamente, a trabalhar numa agência. Sempre trabalhei com grandes marcas (e mais uma coincidência: uma delas, a primeira que trabalhei é, agora, se não estou enganada, “irmã” daquela que acabou de largar ;)) portanto nunca conheci outra realidade que não a da loucura total. De horas de trabalho, de um milhão de coisas para fazer ao mesmo tempo, de filmagens que começam antes do sol nascer e acabam 24 horas depois, de artes-finais para entregar tantas vezes de madrugada (e só quem trabalha nesta área percebe por que é que estas coisas acontecem assim). De casa virada do avesso. De vida virada do avesso. De amigos que deixaram de me ver. De jantares em que deixei de conseguir estar presente. E, o pior de tudo, de me ver, dia após dia, a ficar uma pessoa diferente e necessariamente pior por não conseguir dar tempo e atenção ao mais importante. Voltei, mas sou sincera: sei que não é isto que quero fazer. Tive de voltar e, felizmente, num mercado que já teve dias tão melhores, tive a sorte imensa de conseguir fazê-lo (embora não tenha sido fácil nem rápido, admito). E estou bem com a minha decisão e tranquila em relação ao que estou a fazer. Mas aquilo que me move é pensar que, um dia, vou poder fazer o que a Ana fez agora. Entendo muito bem esse nó na garganta, mas garanto-lhe que num instante vai deixar de o sentir, porque aquilo que vai ganhar é tão mais importante do que aquilo que perdeu.
    Que tudo corra bem nesta nova etapa!
    – Rita

  9. Vai correr tudo bem, certamente será um novo desafio, novas rotinas, mas só vivemos uma vez, também faz falta sentir o tempo que passa por nós. Muita sorte

  10. Querida Ana, um abraço apertado. É preciso uma coragem de leoa para o passo que deste e admiro-te, parabéns! Desejo que este novo caminho seja repleto de coisas boas. Pedrinhas no caminho, de certeza que vão haver, há sempre, mas quem aguentou o ritmo que aguentou e agora foi capaz de dar este passo, irá ultrapassar tudo. O maior sucesso 🙂

  11. OMG. vai correr tudo bem, tenho a certeza. muitos beijinhos, Ana*** que bom que vais continuar a inspirar fazedores com mais e melhores feitos. 🙂

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