E quando parecia já não aguentar o ruído e nem mais um solavanco do jipe naquela estrada de pedregulhos e terra, eis que chegamos. 60 quilómetros e 4 horas depois. Até parecia mentira mas não, era ali, tínhamos chegado finalmente à quinta onde íamos ficar nos próximos dois dias.
Recebeu-nos Gaudi, a dona, a mulher costarriquense mais bonita que vi até agora. Dentes muito brancos, pele lisinha, feições delicadas, cabelos escuros, simplicíssima na forma de vestir. Explicou-nos que a razão de ser da finca Terra Viva é proteger os recursos naturais da zona gerando, ao mesmo tempo, uma forma de sustento. Daí a leitaria e as casinhas de madeira construídas para receber pequenos grupos de hóspedes e turistas. Deu-nos um mapa da propriedade e convidou-nos a ficar. Dali a pouco poderíamos ver ordenhar as vacas e alimentar os vitelos.
Estávamos cansados da viagem, encostamo-nos um pouco, eles adormeceram. Eu li, escrevi e fui procurar o Ivan, o rapaz que trata das vacas. Encolhi-me lá num cantinho e estive a observá-lo. Contou-me que faz aquilo duas vezes por dia, todos os dias. Sabe o nome de todas as vacas, fala com elas. Explicou-me tudo, mas devido ao barulho não entendi metade. Mais tarde li que o processo é o mais orgânico possível de forma a produzirem o leite mais saudável, sempre protegendo os cursos de água e a natureza. Por isso fazem os próprios fertilizantes e usam o gás metano [das vacas] para cozinhar e aquecer a água que sai a ferver dos chuveiros. E à noite, as luzes baixam de intensidade para proteger a migração de milhares de borboletas noturnas. Querem ser um exemplo para as propriedades vizinhas.
As instalações são simples mas muito confortáveis. Ficamos instalados no primeiro andar da casa grande de madeira, por cima de uma sala de estar com internet, livros, sofás e uma mesa comprida para o pequeno-almoço. As cortinas são de tecido xadrez e há mantas em cima da cama. Faz frio, chuvisca e está muito vento. Esta noite soprou tão forte que os ramos das árvores batiam nas janelas. Não conseguíamos adormecer. É curioso como estranhamos tanto os ruídos da madeira a estalar, dos animais ou da chuva no telhado da casa. Somos mesmo filhos da cidade, não da natureza.