[5 de Abril de 2010 às 2:28]
Acho eu que há algumas tradições que tem piada manter. Uma delas é a missa de domingo de Páscoa, oficialmente a única no ano, que termina com o queimar do Judas em praça pública. Coisa semi-profana, o ritual reúne os fiéis no átrio da igreja em redor de um boneco de pano e cabeça feita em pasta de papel que é pendurado lá no alto de um poste. Pega-se fogo ao Judas e ele começa a rodar, a rodar, a rodar até lhe explodir a cabeça em alto estrondo. Há sempre criancinhas que choram com o susto, há os que riem com a desgraça do traidor, e outros parecem não perceber bem a razão de tudo aquilo e estão ali só porque faz parte. Este ano o Judas, não se sabe porquê, preservou a cabeça e a coisa acabou meio murcha. Este ano a família, por isto ou por aquilo, também não saiu toda para o átrio da igreja e a coisa acabou meio pequena.
Ainda assim, o cabrito apareceu bonito à mesa mãe onde rodaram, ao longo do dia, avós e tios, de um lado e do outro. Pascoou-se o dia todo. E, quando já se preparavam as despedidas, o meu tio J. abre o livro do nada e começa a contar aventuras do tempo de bailes, idas à boleia e polícias sinaleiros que nos fazem rir até às lágrimas. Ele é actor de comédia, inventor de partidas e contador de histórias com a maior das piadas. Até a pitada de gaguez lhe ajuda ao talento.
E era em tudo isto que pensava à espera do sono… Teologias à parte, Páscoa até pode ser um momento para “re-conhecer”. Conhecer de novo um tio que teve e tem, no enredo da minha vida, um papel tão especial.
[em honra do meu tio J. gostava que hoje tivesse vindo – e a tia T. também]