Não me cruzei com a minha mãe mas nem por isso a sua passagem por aqui passou despercebida. É tão diferente e tão bom chegar e encontrar a casa cheirosa e arrumada, com aquele toque tão dela, tão nosso. Melhor ainda é saber que quando estou tão embrenhada no meu papel de mãe das minhas filhas e me esqueço que, também eu, sou uma filha que precisa de mãe, a minha, atenta, não deixa a coisa passar. Como dizem, “mãe é mãe” e quem tem mãe tem, de facto, muito. Que grata que eu sou por tê-la na minha vida.
Faço o caminho a pé pela margem do rio e reparo nas árvores que há 3 semanas tinham os ramos despidos e agora exibem as primeiras folhinhas, verdes, tenras, brilhantes da chuva que parece ter caído de manhã cedo. Respiro fundo e aperto o casaco. As esplanadas estão montadas mas a primavera recuou e o céu está branco, refletindo uma luz quase incandescente que recorta a paisagem numa tonalidade cinzenta e fria. Gosto desta cidade. Apazigua-me tanto quanto me estimula, silencia-me tanto quanto me desperta, tem uma boa influência em mim e sabe-me sempre bem estar de volta. Apesar de.
É verdade que preciso de ir, pelo meu negócio, pelo meu trabalho e até por mim. Mas gosto tanto de ir como de regressar. É bom regressar.
Depois de tantos dias a um ritmo alucinante e de uma noite praticamente sem dormir, hoje o ritmo é lento. Não ambiciono trabalhar, apenas escrever estas linhas planear minimamente o resto da semana. A minha prioridade agora é a família, a começar por ele. Por isso, encontramo-nos para almoçar. Chove. Abraçamo-nos e abrigamo-nos um no outro. Dedicamo-nos uma hora sem interrupções, sem telemóvel, sem tensão. Estas semanas foram tão duras para mim como para ele e não há dúvida que estamos os dois exaustos. Precisamos urgentemente de tempo para nós e então planeamos: uma festa no sábado, umas mini-férias a dois, uma viagem em família.
Temos um plano. Mesmo quando passamos períodos tão difíceis como este último mês e meio, mesmo nas horas em que me questionam e me questiono se não devemos voltar atrás na decisão de termos vindo com elas para cá [será realmente possível gerir tudo e todos à distância e ao mesmo tempo?], mesmo sabendo que não somos uma família com as rotinas mais convencionais e eu viva com a eterna culpa de não ser a mãe mais presente, apesar de tudo isto, dos pesares, dos sacrifícios, das ausências e das estafas, este é o caminho que nos vemos a percorrer.
O preço deste vai-e-vem é alto, talvez mais alto do que previra, mas estamos juntos nisto. E se estamos juntos, então vai dar certo.