[Sevilha, junho de 2016. fotografada pelo fantástico Pierre Pallez]
Eu. Um dia depois de fazer 38 anos. Observo-me.
As pessoas dizem que eu estou magra mas estão enganadas. Já fui mais gorda é certo [o tesourinho de 1993 que ontem circulou no facebook não engana], mas tenho exatamente o mesmo peso que tinha antes de ser mãe. O meu aspeto é que mudou. Perdi as maçãs do rosto, as covinhas nas bochechas, a cara redonda. Ao invés, ganhei umas rugas a volta dos olhos e os ossos saltaram-me do peito. O meu rosto endureceu. Já vivi pior com isso. Incomodam-me mais as varizes nas pernas ou o umbigo que me disseram ser perfeito e que já não é.
Continuo a sonhar como nos 20, a achar-me capaz de tudo, a procurar o sentido da vida e das coisas, depois do tapete que me arrancaram dos pés, naquele ano, às 3 da tarde do dia mais quente de agosto. Com duas filhas, uma empresa e um quotidiano que bem podia ser mais fácil, levo a vida demasiado a sério e sou uma chata dos diabos quando as coisas não são bem como eu acho que devem ser mas não será preciso chegar ao fundo do fundo do meu coração para se perceber que tudo o que faço é por bem. Eu sou do bem. Do certo. Da família.
Não fiz metade das coisas que achava que ia fazer. Fiz outra metade que nunca imaginei ser capaz de. Aprendi, a meu custo, a lição que o meu pai mais me repetiu: os verdadeiros amigos são raros. Demasiado. Pelas distâncias, diferenças e circunstâncias, perdi uma mão deles mas quero acreditar que ganhei outros tantos, entretanto. Chorei amargamente quando o conceito de melhor amiga se desfez. E vi confirmar-se a minha maior suspeita de que, melhor e incondicional amiga, mesmo, eu só tenho uma: sangue do meu sangue, a minha primeira, a minha irmã.
Eu, um dia depois de fazer 38 anos. Já lá vai um terço da minha vida, acho eu. Tanto tempo, tão pouco tempo e hoje começa um novo ano para mim. Mais um ciclo. Mais uma oportunidade. Rápida a passar da cabeça para o papel, já fiz a minha parte e anotei uma data de desejos e objetivos, mudanças [here we go again] e planos [diz que se há algo que tenho de muito bom é a capacidade de sonhar] para concretizar. Agora torço para que tudo dê certo e rezo por uma só coisa: paz. E que a música continue a embalar-me a vida, tal como no dia em que nasci.
[novo single dos Nouvelle Vague, cover de uma música dos Cocteau Twins que eu me lembro vagamente de ouvir em miúda]
12 comentários a “38”
maravilhosa partilha!
gostei muito.
felicidades!
Na quinta feira passei por aqui a espreitar se havia novidades e como ia para braga no dia seguinte pesquisei por braga no teu blog . Há TRÊS anos que não ia a cidade e podias ter partilhado ALGUM SITIO QUE ME PUDESSE INTERESSAR CONHECER. Sábado passei a tarde pelas ruas que confluem para a Praça da REPUBLICA a matar as saudades que tinha. Dos meus 37 anos, 32 tiveram férias de verão entre Braga e Vila verde e mais o BÓNUS de 3 Natais. A Alegria já não é bem a mesma de há 5 anos para cá, sem a minha mãe vibro menos com beleza destas memórias mas é sempre reconfortante regressar e sentir-me um bocadinho em casa (do minho por parte do pai e do ribatejo por parte da mãe). no sábado acabei a tarde a comer um milfolhas na “frigideiras do Cantinho” . Ao regressar ao carro ainda tive a surpresa de passar por ti entre o Largo de Santa Cruz e a avenida da Liberdade. CRUZAMOS-nos no inicio e verdadeiramente no fim desta visita à cidade 🙂 ele há coincidências… beijinho Continuação de tudo de bom
Bom Dia
Parabéns. Gostei de ler o post identifiquei-me muito com o que escreveu principalmente “Não fiz metade das coisas que achava que ia fazer. Fiz outra metade que nunca imaginei ser capaz de. Aprendi, a meu custo, a lição que o meu pai mais me repetiu: os verdadeiros amigos são raros. Demasiado”. infelizmente não tenho irmãos, mas ainda acredito nas amizades/pessoas. No entanto a dias que é difícil. Bjinhos e felicidades
Parabéns, Ana!
Que celebre a Vida! Que possa comemorar o facto de ver mais um ano acrescentado ao seu livro de histórias. Que festeje a alegria de ter mais páginas em aberto.
a ana é uma inspiração diária para mim. venho cá todos os dias, à espera de um texto, de um desabafo, de uma nova aventura, de uma nova colecção. penso tantas e tantas vezes em si e no percurso que fez. e partilho-o sempre com tanta gente. porque é forte, corajosa, simples, única. as rugas todas temos, mesmo aquelas que não arriscam. mas as da ana contam uma história. e que história 🙂 um beijinho e nunca desista de perseguir os sonhos. continue a ser como é.
muito obrigada, sinto-me muito mimada com tantos elogios. prometo que volto ao blog em breve.
Permita-me o elogio, mas acho-a muito bonita. Por dentro, pelo que escreve e por fora pela imagem que mostra. sinto me inspirada por si. desejo lhe muita, muita felicidade, saúde e muito amor em família. Beijinhos **
obrigada Teresa. tudo de bom para si também. beijinho
ParaBéns Ana. Estás uma gata e o texto tao giro! A maturidade É outra forma de beleza, so para aqueles que a sabem ver e apreciar. Adoro uma fase de confuncio que diz: “os amigos no sucesso ve-Se a Quantidade, na crise a qualidaDe”. Bj
palavras sábias, Andrea. um beijo para ti também.
Parabéns Ana.
Que texto tão bonito!
Parabéns!
(e que verdadeiras são estas palavras. Tanto eco que fazem em mim)
Um beijinho*
obrigada! o mais gratificante é saber que o que escrevo toca a quem me lê.