8:30 da manhã. Já estou sentada ao computador, cappuccino à direita, litro de água à esquerda. Saímos os quatro, juntos. Os quatro a pé, os quatro no autocarro, os quatro outra vez a pé até ao colégio. A Constança riu e correu pelo caminho. A Camila ocupou-se do seu pão no carrinho. É evidente a felicidade das miúdas quanto estamos assim os quatro. Acordam com as galinhas e saltitam entre os dois, excitadas de contentes.

E nós, num abraço, olhamo-nos orgulhosos e com a certeza de que é assim que devemos estar.

Estive quase todo o mês fora. Basel recebeu-me vestida de outono. Acolheu-me e ofereceu-me o seu melhor cappuccino. Como uma amiga das boas, não precisou de fazer qualquer pergunta para perceber que venho de coração apertado, corpo cansado e com a cabeça confusa, cheia. Um ano depois desta nossa relação intermitente, há decisões a tomar e ambas sabemos que não vai ser fácil. Crescer não é fácil. Ser adulto não é fácil. E fazer escolhas quase nunca o é.

Assim que Outubro foi, talvez, o mês mais intenso do ano. Metemos a vida [de Braga] em caixotes, praticámos o desapego das coisas e emprestámos as chaves da nossa casa. Acampámos na casa da mãe, que de repente viu o apartamento cheio e barulhento. Batizámos a Camila num dia chuvoso e bonito de outono. O vestido serviu-lhe, a cerimónia foi íntima, a festa foi especial. Ao mesmo tempo, a Constança fez 4 anos e celebrou com tudo o que tinha direito: família, amigos e Peppa.

E as mudanças que andavam semi-agendadas na nossa vida, de repente e sem aviso, tornaram-se reais.

E agora? Agora há que seguir em frente. Alinhar o que descarrilou, sacudir o medo, enfrentar as angústias e meter mãos à obra… outra vez. Só peço um bocadinho mais de força, um bocadinho mais de fé, um bocadinho mais de coragem. Respira. Porque o que aí vem é bom, mas assusta. O que vem aí é para melhor, mas vai dar trabalho. Respira. Já sabes que depois da tempestade vem a bonança. Outra vez.

[15.10.16, na manhã do batizado da Camila * fotografia por Rita P. Braga]