estes dias de outubro [escrever para não esquecer]


Tens feito o que nunca antes fazias: pedires a minha cama e para que eu me deite contigo, ao teu lado. Naquele dia, no seguinte e hoje fiz-te a vontade. Percebi a tua carência do fim-de-semana que passei a trabalhar e lamentei não te ir buscar mais cedo ao colégio. É que chovia e eu, vendo o meu plano de te levar um bocadinho ao parque a cair por terra, fui-me deixando ficar no atelier tempo demais. Deitei-me contigo e os meus primeiros pensamentos foram para o jantar que deixei a meio, a máquina de roupa que ainda queria pôr a lavar, os e-mails por responder, tudo o que tinha deixado à minha espera naqueles escassos minutos. Zanguei-me comigo própria – estou sempre com pressa, não devia ser assim – e, contrariando a minha natureza, deixei-me estar. Procurei a paciência cada vez que te mexias, me davas um pontapé ou levantavas a cabeça. De vez em quando tiravas a chupeta e dizias qualquer coisa tão disparatada como “o Ruca cortou o cabelo” ou tão querida como “a mamã ’tá na cama com a Titáta”. Tocavas-me na cara, procuravas o meu cabelo, davas-me a mão. Tão bom. Senti-te adormecer. Senti-me quase adormecer também. Mas lá me levantei e me fui sentar ao computador. Sinceramente?… não sei se fiz bem. Hoje acordei-te com colo e beijos. A minha barriga de quase 30 semanas já me devia impedir de pegar em ti mas não faço muito caso. Vesti-te uma calças de gancho descaído às quais não estás muito habituada e que te puseram a andar de um jeito engraçado. Deixei-te no colégio e, tal como naqueles primeiros dias, custou-me. Custou-me tanto. Saí de lágrimas nos olhos e com muito pouca vontade de te deixar ficar. Estás a crescer, filha, daqui a menos de uma semana fazes 2 anos, e eu talvez passe menos tempo contigo do que devia. Não sei. Só sei que dou o meu melhor. E então hoje escrevo, também, para não esquecer.


3 comentários a “estes dias de outubro [escrever para não esquecer]”

  1. Oh, que amor de texto! Fiquei com as lágrimas nos olhos, tentamos dar sempre o nosso melhor e parece que o melhor nunca é suficiente. Mas os nossos filhos/as acham-nos um máximo e as mais lindas do mundo <3 acho que as únicas que não sabem isso, somos nós. Beijinhos, amei amei, obrigada por escrever para não esquecer!

  2. Oh, que amor de texto! Fiquei com as lágrimas nos olhos, tentamos dar sempre o nosso melhor e parece que o melhor nunca é suficiente. Mas os nossos acham-nos um máximo e as mais lindas do mundo <3 acho que as únicas que não sabem isso, somos nós. Beijinhos, amei amei, obrigada por escrever para não esquecer!

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