Entre as 6 e as 9 da noite a rotina nesta casa era igual a todas as outras: chegar, mochilas num canto da sala, Constança a correr à volta dos brinquedos, um sapato para cada lado, eu na cozinha a preparar o jantar para as três, jantar ora juntas, ora à vez, um bocadinho de brincadeira [ou melhor, a arrumar os brinquedos], depois banhos e cama. Sempre tentei que não se deitassem muito mais tarde do que as 9, primeiro a Camila, depois a Constança.
No meu período de maternidade a solo debati-me muitas vezes [quase todos os dias, para ser honesta] com esta contradição: por um lado, uma enorme vontade que chegue o fim do dia para, finalmente, estar com elas; por outro, uma enorme vontade que chegue a hora de irem para a cama para, finalmente, descansar um bocado. Na Suíça, juntos os quatro mas apenas os quatro, a dualidade mantém-se. Mas, então, não sentiremos todas o mesmo?
Neste fim-de-tarde quente de setembro, o outono fazia-se anunciar pela luz dourada e bonita que caía na minha cozinha. Eu improvisei, cozinhei, ralhei, ri e brinquei, tudo ao mesmo, qual malabarista do circo. Mas se calhar ser mãe também é isso, uma espécie de artista e atriz que se desdobra, inventa e reinventa em cada final de dia, um após o outro, neste palco principal de uma casa com crianças que é, geralmente, a cozinha.
Agora a casa está sossegada. Já passa da meia noite e eu estou na mesma chaise longue, computador no colo e televisão quase em silêncio, como se elas estivessem lá dentro, a dormir, uma em cada quarto, tranquilas. É óbvio que sinto a sua falta, que sinto saudades, até é estranho estar aqui sozinha. Mas é igualmente óbvio que tanto eu como o pai das minhas filhas precisávamos disto: tempo. Eu, tempo para estar comigo; ele, tempo para estar com elas.
cadeira de comer Stokke * livro As Receitas da Mafalda * louça Bloomingville * câmara fotográfica de brincar Lovely
[fotografias por Rita P. Braga para Grace Baby&Child]
4 comentários a “fins-de-tarde [na minha cozinha]”
que fotos lindíssimas!…
acho estranho, muito estranho quando a casa está em silêncio. coisa que eu tanto adorava e que hoje em dia odeio profundamente.
oh ana, todos os dias me debato com esse mesmo sentimento. que me apetecia ir buscá-los mais cedo à escola e tal… mas chegamos a casa e só conto os minutos para os meter na cama 😀
a mãe que disser que não sente isto, está a mentir!!!
bjs
adoro, sinto o mesmo todos os dias.
Felicidades
Mais um texto lindo e tao bom de se ler… As fotos entao…. Wow. Lindas.
Um beijinho grande ana