pedaços do pai [nos meus dias]


1.
27.06.13. Sempre que passo aqui, eu penso nele. Detestava as alturas, portanto passar neste viaduto deve ter sido difícil. Não disse nada, conduziu em silêncio, mas eu senti-o nervoso e isso incomodou-me. Hoje fiz o percurso no sentido contrário e não me assustei por aí além. Achei curioso que a CREL, as subidas, o viaduto e os túneis lhe provocassem filoxeras. As coisas quase ridículas que me fazem senti-lo perto. E é tão grande a saudade.

2.
Sonhei com ele. Acordo a chorar. O B. pergunta-me:
– Porque choras? Por ser muito real?
– Não, respondo. Precisamente por não ser real.
3.
Não é ao deitar ou quando olho a minha filha. É no carro, ao fim da tarde, no regresso do Porto para casa. Principalmente quando venho com a cabeça em água e cheia de questões para as quais procuro resposta. Penso muito e custa-me muito. É que eu tinha uma espécie de ritual de lhe ligar todos os dias, a essa hora, durante a viagem. Era uma maneira de estarmos um bocado juntos. Eu contava meia dúzia de coisas do meu dia, os meus planos; ou falávamos de outra coisa qualquer. Ele era um ótimo ouvinte. Às vezes choro, choro muito, tanto que até tenho medo de deixar de ver a estrada. Outras vezes não. Sintonizo a Antena 2 e fico mais perto do céu.

4.

A passar de carro pelo Gaio.
– Apetecia-me um café.
– Ok, eu vou-to buscar.
E eu fui. Parei o carro, liguei os quatro piscas, entrei no café e disse: – um café se faz favor. Em chávena fria e não muito cheio. Vou levá-lo ao meu pai que está ali no carro e já lhe devolvo a chávena.
– Toma pai, o teu café.
– Obrigado. [bebe o café] Vamos, vamos para casa.
– Vamos.

5.
27.10.13. Mudou a hora e eu não sabia. Quando entro no carro, quase me pára o coração: estou 1 hora atrasada!? Não, felizmente o iphone não me deixou ficar mal. Mas bolas, mudou a hora e eu nem dei por ela. Humpf. Até nisto, nestas coisas pequenas e corriqueiras dos nossos dias, ele me faz falta. Era sempre ele que me avisava.


6 comentários a “pedaços do pai [nos meus dias]”

  1. É por isto e muito mais que gosto de vir aqui cada dia, pois sempre me emociono e sinto-me tão perto de alguém que não conheço, mas que me identifico tanto! Obrigada por partilhar e por me fazer sentir assim! A dor não passa, mas a saudade que fica com o passar do tempo torna-se mais fácil de levar e ficam sempre as boas recordações! Beijinhos

  2. É por isto e muito mais que gosto de vir aqui cada dia, pois sempre me emociono e sinto-me tão perto de alguém que não conheço, mas que me identifico tanto! Obrigada por partilhar e por me fazer sentir assim! A dor não passa, mas a saudade que fica com o passar do tempo torna-se mais fácil de levar e ficam sempre as boas recordações! Beijinhos

  3. Tão bonito este post.

    Obrigada pela partilha. Faz-me estar muito mais atenta aos pequeninos momentos. “Verbalizá-los” faz bem. Eu acredito que sim 🙂 *

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