everything gonna be alright [música para reconfortar]



A prima da mãe [portanto minha prima também] percebe bem de música e das dores de perder um pai também. No outro dia, a propósito deste post, mandou-me esta música para me reconfortar. Eu não conheço muito bem esta minha prima mas gosto da música que ela põe a tocar. Mal ela sabe que me fez recuar a uma certa noite, algures entre 1996 e 2000, andava eu na faculdade.

Há dois períodos da minha vida em que passei muito tempo com o meu pai e que foram: as quartas-feiras de quimioterapia e os 4 anos de estudante, em Lisboa. Um dia escrevo sobre as manhãs que passei com ele no hospital e sobre as conversas que tivemos, os planos que eu, naquelas horas de espera, fiz ou até da vez em que eu lhe disse – Pai, lembras-te do Bernardo? Por agora vou só recordar uma das noites que passámos juntos em Lisboa, uma de muitas em que ele me levava a jantar e a sair, de braço dado.

– Hoje vou mostrar-te um sítio especial. Espetacular. – Ele usava muito poucas vezes palavras destas; era uma pessoa pouco dada a exageros portanto “espetacular” entrava no grupo de palavras [tais como “imenso”, “adoro” ou “odeio”] que o meu pai, pura e simplesmente, não usava. Portanto se um “espetacular” lhe saia da boca é porque era mesmo qualquer coisa e eu ficava logo atenta.

E foi. Foi espetacular, tal como ele tinha dito. A entrada estreita, descer as escadas e encontrar uma sala fumarenta, muito fumo mesmo, apertada, as mesas baixas, os banquinhos de madeira e toda a gente virada para a banda, mesmo ali em cima de nós. Eu tinha uns 20 anos e foi a minha estreia no Hot Club. Foi aí que soube o que era blues e foi mítico. Escrito assim até parece que foi há muito mais tempo.

[obrigada M.]

2 comentários a “everything gonna be alright [música para reconfortar]”

  1. Fiquei com um nó na garganta … o meu pai já há dois anos que anda a fazer quimio, é um espinho cravado no coração, sei que não há cura mas espero que os tratamentos lhe permitam viver mais uns anos e que ele possa ver os netinhos crescerem … mas custa muito, tudo…
    um abraço

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