É domingo, fez sol e pouco frio. Para nós, já não é possível usar meias pelo joelho nem sair de casa sem um casaco, ao fim da tarde a temperatura desce muito, ainda assim não é raro cruzar-me com um suíço de manga curta. O aquecimento central das casas já está ligado automaticamente, mas nós ainda mantemos os radiadores das divisões no mínimo, é mais do que suficiente. Está-se bem.
Numa tentativa de tornar a casa mais acolhedora, mais real, ontem comprámos mais umas peças para os quartos: mesinhas de cabeceira para nós e para a Constança e um ou outro detalhe de decoração. A sala é a divisão mais atrasada e sem grande ordem. A mim faz-me bastante confusão a casa estar assim e tão estilo ikea, mas ao mesmo tempo não consigo comprar à pressão nem comprar por comprar, já para não mencionar o absurdo dos preços de cá.
A Constança ambientou-se bem ao quarto e à cama de solteiro, mas precisou da companhia do pai para adormecer. Está feliz, mesmo feliz, por estar connosco a tempo inteiro, sem distrações, e acima de tudo por estar com ele. Anda mais dócil do que birrenta, fala sem parar, está tão contente que até se baba. Fico satisfeita e com a confirmação de que o melhor que fizemos foi mesmo vir.
Temos discutido muito a nossa vinda para cá, quando e como, e a verdade é que não há muitas certezas. Não é possível definir uma data ao certo, vai depender de como correr o início do ano e como se conjugar tudo [e que é tanto] o que está em causa nesta fase. Para começar, a Camila, o parto e o seu desenvolvimento nos primeiros tempos; a Constança, que vai sofrer muitas mudanças em simultâneo com o nascimento da irmã, o afastamento da família [a prima, a tia e os avós em particular], a vivência num país novo, colégio novo, língua nova, etc; a Ma Petite Princesse, como é que eu vou conseguir gerir as coisas à distância e manter o ritmo de crescimento do negócio; depois eu mesma, o meu equilíbrio emocional, com duas bebés em casa, sem conseguir trabalhar a 100% e sem qualquer tipo de apoio; e finalmente o Bernardo, que no meio de tudo isto, está aqui sozinho e a ver-se na situação de ficar mais tempo do que gostaria sem mim e sem as duas filhas.
Respirar fundo. Deixar fluir. Tentar não sofrer de ansiedade e ao mesmo tempo ter a consciência do que tem de ser feito. Aceitar a impotência face ao que não podemos controlar. Ter força para suportar as dores da distância. E coragem para enfrentar o desconhecido. Seria sempre mais fácil não mudar, não sair da zona de conforto, não mexer muito no nosso dia-a-dia. Mas certamente não seriamos tão felizes como estamos a fazer por ser.