Quando vim para esta casa, no fim de 2006, eu tinha acabado de dar uma volta de 180º à minha vida, deixando Lisboa, o emprego, a casa, os móveis e praticamente tudo o que tinha sido a minha vida nos 6 anos anteriores. A casa era da minha avó que, por coincidência, tinha acabado de perder a única inquilina, já idosa, que a casa tinha conhecido. Então eu, que tinha começado a trabalhar na Trofa naquela que foi a minha primeira incursão, falhada diga-se, no mundo da moda, aluguei-a.
A casa tinha 2 quartos, 2 casas de banho, 2 salas, 2 despensas, cozinha e uma estreita varanda. Cada parede com a sua cor, cada divisão com o seu azulejo diferente, típicos acabamentos dos primeiros apartamentos dos anos 70. Fizeram-se obras. E depois do chão arranjado, paredes pintadas, portas lacadas, uns pequenos melhoramentos nos wcs e cozinha remodelada, eu mudei-me. 2007 foi ano novo, vida nova. E casa nova.
Passados uns anos, acabei por comprar a casa [e fazer a minha avó muito feliz], o Bernardo mudou-se, até que na gravidez da Constança decidimos deitar abaixo a parede que separava as duas salas [de estar e de jantar] e assim ganhar mais espaço para a criança que aí vinha. Aproveitámos e remodelámos profundamente as casas de banho. E como contei aqui, de umas obras contidas rapidamente vimos a casa inabitável por uns 3 longos e duros meses.
Agora, exceptuando um ou outro investimento a fazer [um sistema de aquecimento mais prático e económico que os aquecedores a óleo por exemplo] e exceptuando um ou outro pormenor de decoração que esta mente inquieta anda a planear [gostava de devolver o tapete ao quarto e mudar o candeeiro da sala] a casa está lá. Como eu imaginei. Como eu sou. Como nós somos e vivemos os dias.
Diz a minha irmã que eu nunca hei-de ter uma casa minimalista. E por mais que comece no branco e me esforce por manter o branco [porque gosto, porque nunca cansa e porque é uma cor que me faz sentido como base para todas as outras cores], a verdade é que aos poucos vou acrescentando cor e mais cor, com uma clara queda para os tons quentes e avermelhados eu, que até nem gosto por aí além de vermelho.
Assim é a minha sala, cheia de objetos de família, comprados em feiras vadias, trazidos de viagens ou até recolhidos da rua, como é o caso do armário de persiana que encontrei na Guerra Junqueiro quando ia a caminho de casa, ainda vivia em Lisboa. Tenho outro à entrada, uma secretária no atelier e qualquer dia conto esta peripécia num post.
Na minha sala, quase tudo tem uma história. A cadeira de braços de madeira veio do escritório do bisavô do Bernardo, bem como a máquina fotográfia que agora repousa na prateleira. A coleção de ilustrações é de 1938 e retrata os trajes típicos das províncias portuguesas naquela. São cópias, as originais estão na casa do meu tio J., que teve a iniciativa de mandar fazer réplicas e o cuidado que estas fossem emolduradas de forma fiel às originais. Gosto muito desta coleção e quase todos na família temos uma igual.
Depois os copos e as chávenas antigas, peças que a minha mãe volta e meia me vai trazendo lá de casa. São, na sua maioria peças da família do meu lado paterno, às quais se juntam agora outras peças da família do pai do Bernardo e eu adoro essa fusão material e simbólica das duas famílias, enormes e amigas, que se cruzam desde há muito tempo e de variadas formas.
A mesa com banco foi desenhada pela minha irmã, as cadeiras são da Habitat, o candeeiro comprei em Tarifa, o prato azul trouxe de Tânger, na minha primeira visita a Marrocos, e os pratos na parede vieram das feiras da ladra ou das cozinhas da família: o azul inglês foi oferecido pela avó do Bernardo, os dois rosas da direita vieram da casa da minha avó materna e os azuis do canto superior esquerdo ainda estão a uso na casa da minha avó paterna. Deliciosa conjugação.
No canto, uma escultura do tio do Bernardo, que veio cá para casa ainda o Bernardo não tinha reaparecido na minha vida. A mesa e a cadeira amarelas compradas numa venda de garagem, junto com as molas do interior de um colchão velho que pendurei na parede, compõem o meu espaço de trabalho em casa.
E na casa de banho de serviço, na porta ao lado da cozinha, chão de madeira como o resto da casa e um poster emoldurado comprado no Museu de Arte Moderna de Estocolmo.
Por hoje ficamos por aqui. Num próximo post mostro-vos a outra parte da sala, o lado de estar, desta casa real e de uma família normal, igual a todas as outras.
[fotografias por Rita P. Braga para Grace Baby&Child]
3 comentários a “na minha sala [parte 1]”
De visita pela primeira vez fica a vontade de cá voltar. Parabéns pelo blog. Abraço, Alexandra
Boa noite,
Adoro o post! A casa está maravilhosa e as descrições lindas,
obrigada pela partilha!
Carolina Melo
Adoro tudo, ana. se fosse a minha sala de jantar, estava perfeita!!
ansiosa para ver o resto, adoro ver casas alheias maravilhosamente reais 😉