Na nossa família, o Natal celebra-se à mesa. É à volta da mesa, da mesa da minha mãe, da minha tia e da avó do Bernardo, que passamos tardes, serões e praticamente três dias num ritual de celebração que começa no dia 24 ainda de dia e só termina no dia 25 fora de horas, às vezes até se prolonga para o dia 26 ao almoço, haja roupa-velha para todos e folga no trabalho.
Uma mesa bonita enche os olhos antes da barriga, recebe bem; para mim, vale a pena investir um bocadinho de tempo e energia em prepará-la cuidadosamente, em função de cada ocasião. No Natal, esta deve ser ainda mais especial.
Comecemos pela toalha. Procurava uma toalha simples, branca, mas com um look mais descontraído e natural para contrariar o clássico dos copos e da loiça. Toalhas brancas não faltam nas gavetas da minha mãe, é verdade, mas foi aqui que fui encontrar a toalha certa. Igualmente intemporal e branca [prefiro sempre o branco], uma toalha em linho lavado, com um toque meio amarrotado e as bainhas em rolinho, tem muito mais a ver comigo do que uma toalha adamascada ou com muitas rendas. Depois, como se argumentos me faltassem, combina na perfeição com os caminhos em linho estampado [gosto de usar os mesmos materiais quando há outros contrastes] e os talheres dourados, modernos e tão elegantes, que não resisti em comprar também. E por aqui se fica o novo.
Tudo o resto é antigo, de inspiração tradicional, a fazer alusão às tradições natalícias da casa dos meus pais, tão simples e ao mesmo tempo tão carregadas de significado.
O serviço de pratos é da Vista Alegre e o serviço de copos [de “picos”, como lhes chamamos] da Marinha Grande; vieram ambos da casa da minha avó materna e em jeito de presente de casamento. Os pratinhos do pão, em vidro com rebordo dourado, foram comprados numa loja de velharias, são mesmo antigos e eu gosto muito deles porque são exatamente iguais aos que a minha mãe tem em casa e que, por sua vez, eram da casa dos meus avós paternos. Já os pratinhos brancos com o filet dourado [nos quais coloquei os frutos secos] foram um presente da avó paterna do Bernardo; têm uns pássaros pintados e são muito antigos também. O conjunto de saleiro e pimenteiro dourados, talvez os tenha comprado na Zara Home ou na Area; já os tenho há bastante tempo. Quanto aos galheteiros, desemparelhados e um de cada feitio, são 4: um para o vinagre de vinho, outro para o vinagre balsâmico, outro para o azeite e uma canequinha pequena para o azeite aromatizado com alho, que é servido quente. Comprei-os em feiras da ladra e encontrei-os por aí, não sei bem precisar a sua origem.
Engraçado como quanto mais velha sou, mais valorizo as coisas herdadas, de família, com passado, um uso e uma história. Há uma espécie de sentimento nestes objetos simples que não é de posse, mas sim de pertença.
Para decorar, umas estrelas de madeira que comprei na Suíça, tal como a fita e o papel, lindos, com que embrulhei os presentes. Ao centro, um arranjo natural em forma de coroa que eu própria fiz com raminhos de cedro, pinheiro, pinhas e [as bolinhas rosas] pimenta natural. Usei o que sobrou para personalizar os presentes e espalhar um pouco de verde e um cheirinho bom pela casa.
E assim é a nossa mesa no Natal, uma representação material e simbólica do nosso gosto, da nossa herança familiar e da vida que estamos a construir. Espero que tenham gostado. A todos, um muito, muito bom Natal!