[outras realidades] o colégio


Qualquer receio ou dúvida que eu pudesse ter em relação à integração das miúdas no colégio [e tinha, alguns, nomeadamente a questão da língua]… totalmente superados. Neste sentido a Camila não conta muito. Desde que não chore ou estranhe, tudo bem; ela está habituada a outros colos. Já a Constança preocupava-me: e se ela ficasse a chorar ou, pior, rejeitasse o colégio? Não queria nada passar pela situação de ter de ser firme e segura com a minha filha num prato a suplicar por colo. Mas nada disso. De facto, as crianças são uma caixinha de surpresas. Aconteceu tudo ao contrário, e para melhor.

Seguimos a dica da Magda e, no domingo, véspera da primeira visita ao colégio, saímos de casa para ambienta-la à ideia. Fizemos o trajeto de autocarro, vimos o colégio de fora, espreitámos pelas janelas, até conseguimos ver o parque. Ela fez poucas perguntas, mas não pareceu desgostar. Na segunda, à hora marcada, voltámos. Queria conhecer a educadora, as instalações e encontrar as respostas para todas as perguntas de mãe. A minha opinião? Boa. Três coisas a favor, uma contra. A favor:

  1. Os miúdos saem para a rua todos os dias de manhã. De autocarro, elétrico ou a pé, vão ao parque ou ao jardim, ao zoo, à biblioteca, ao museu das crianças ou a um centro de atividades. O frio não é tema, só não saem quando chove e voltam a tempo de almoçar.
  2. Lavam os dentes depois das refeições. Em Portugal, abordei esta questão numa reunião de pais e quase me chamaram de doida. Era completamente impossível, disseram-me. Pelos vistos por aqui não é.
  3. No preço está tudo incluído: fraldas, toalhetes, cremes, mudas de roupa, alimentação, lanche e pequeno almoço. Os pais não tem que se preocupar com absolutamente coisa alguma. Eu só tenho de me preocupar em perceber o menu em alemão.

Ponto contra: os miúdos comem uma goma e um pequeno chocolate como prémio à sobremesa. Todos os dias! Um excesso da açúcar e sem nexo, na minha opinião. Pedi para não darem à Constança mas não sei como é que a educadora vai conseguir gerir essa situação porque uma vez vendo os outros meninos comer, vai ser difícil negar-lhe. Vamos ver.

Na terça-feira, oficialmente o primeiro dia, levei-as a meio da manhã e o plano era ir buscá-las 1 hora depois. Quando cheguei, a Constança pediu para ficar. Surpresa total. É tudo tão novo e diferente para ela, talvez por isso tenha reagido assim. Falou-me da grande piscina de bolas, dos legos, da escova de dentes no copo e da garrafa de água com o seu nome escrito donde pode beber sempre que lhe apetecer. Adorou.

As turmas são de idades mistas [a Constança e a Camila estão juntas] e não há o conceito de salas, mas sim de grupos. Há dois grandes grupos e como o regime de horário é livre, o número de crianças não é constante; há miúdos que só lá vão para almoçar e fazer os trabalhos de casa. Nestas idades, o colégio [daycare] é visto como uma extensão da casa, não é bem uma escola. Não me parece existirem muitas regras e, perguntei, não há um programa pedagógico a cumprir; os miúdos não estão aqui propriamente para aprender mas sim para brincar [para quem vem do João de Deus, a diferença é enorme a este nível]. No staff há educadoras, estagiárias e rapazes a cumprir trabalho comunitário por opção e em substituição do serviço militar. Sentam-se no chão com eles e no meio de tudo isto ainda há um cão! Uma cadelinha pugg com um problema nas patas que anda com rodinhas. Todos parecem gostar muito dela. Com esta descrição até pode parecer um lugar bocado anárquico, mas não é. É muito bem cuidado e indiscutivelmente bem equipado.

Cada criança tem o seu armário. Quando chegam trocam os sapatos de rua pelos sapatos do colégio [faz sentido] e usam a própria roupa [não há bibe nem farda] mas dormem a sesta com pijamas que o colégio fornece. A alimentação inclui muitos verdes: comem salada como substituto da sopa e vegetais como prato principal. Como é normal nos colégios, o menu está afixado na zona comum mas como eu não percebo uma palavra do que está escrito, tiro uma fotografia e pesquiso no google [sorriso]. A educadora fala inglês comigo, alemão com a Constança, que lhe responde em português e a malta entende-se. 

Terça-feira fizemos a primeira separação. Fui à farmácia, dei uma volta ao quarteirão e sentei-me num café a escrever estas linhas. Quarta ficaram para almoçar, quinta dormiram a sesta, hoje foram às 9 e eu vou buscá-las às 17h. Está tudo a correr bem, portanto, e o fim-de-semana, o primeiro a 4, está à porta. Bom fim-de-semana!


8 comentários a “[outras realidades] o colégio”

  1. ANA

    É A PRIMEIRA VEZ QUE ESCREVO NO SEU BLOG, QUE GOSTO MUITO DE LER.
    sÓ PARA DIZER QUE OS MEUS DOIS FILHOS ENTRARAM NO INFANTÁRIO COM 6 MESES E SAIRAM AOS 6 ANOS, EM Portugal. dEVIDO A ALGUMA MUDANÇAS NOSSAS PASSARAM POR 3 INFANTÁRIOS E EM TODOS (EM lISBOA) LAVAVAM OS DENTES, NÃO HAVIA GULOSEIMAS, E O ALMOÇO TINHA SEMPRE SOPA, PRATO COM SALADA E FRUTA.
    oS PROGRAMAS PEDAGOGICOS, OU A NÃO EXISTENCIA DELES, NUNCA OBRIGARAM AO ENSINO DE NADA, MAS FALAVAM SOBRE MUITO COISA, ABORDAVAM-SE MUITOS ASUNTOS, E OS MIUDOS SÃO SUPER CURIOSOS E ADORAM OUVIR E APRENDER.
    eU GOSTEI MUITO DE TODOS OS INFANTÁRIOS ONDE OS MEUS FILHOS ANDARAM (E UM DELES ERA PUBLICO). aCHO QUE O TRABALHO QUE SE FAZ EM Portugal É MUITO BOM, MAS POR ALGUM MOTIVO, SEMPRE QUE OUVIMOS FALAR DE QUALQUER COISA LÁ DE FORA, AS PESSOAS FICAM DE “OLHOS ARREGALADOS” E DIZEM SEMPRE QUE É MELHOR.
    aCHO MUITO INJUSTO. hÁ MUITA QUALIDADE CÁ, HÁ EXCELENTES PROFISSIONAIS, HÁ ESCOLAS QUE SÃO TÃO BOAS COMO AS DE OUTROS PAISES.
    e ACRESCENTO AINDA QUE EM TERMOS DE ALIMENTAÇÃO (E PORQUE TENHO IRMÃOS E SOBRINHOS EM iNGLATERRA E NA hOLANDA) A ALIMENTAÇÃO NAS ESCOLAS PROTUGUESAS SUPERA EM MUITO, PELO MENOS, ESTES DOIS PAISES.

    mUITAS FELICIDADES PARA VOCES

    mARIA pALMA

  2. será que dá para fazer teletransporte dessa escola para cá? sem a goma e o chocolate 🙂

  3. […] o que não está a resultar. Já a Constança, dizem, come de tudo e bem. A propósito, lembram-se do assunto dos chocolates e das gomas? Diz a educadora que ela nem reparou. Santa inocência, a desta […]

  4. Que bom! identifico-me imenso com o modelo educativo 🙂 as minhas, cá em PT, também andam numa escola que PRIVILEGIA o brincar! Tão bom! e é muito bom ver que eles se adaptam muito rápido! Bem mais rápido que nós! 😉
    Beijinhos!!

  5. A única coisa que me ocorre dizer é… Uau!!!!! Realmente quem sai do João de Deus, é uma mudança brutal, durante uns tempos andei a fazer uma pesquisa sobre a obesidade infantil e percorri várias escolas e colégios, na altura achei muito interessante os meninos de 5 anos terem um regime quase similar aos que já estão na primária, actualmente acho um disparate, acho que são demasiado rigorosos, claro que queremos o máximo de estímulos para as nossas crianças, mas ficarem tanto tempo sentados em frente a uma mesa não faz sentido nenhum. é bom ver que outros sistemas funcionam. e essa de lavar os dentes… pois, compreendo que cá não funcionasse, quando a vontade não é muita claro que as coisas não funcionam.

  6. obrigada pela partilha. Acho muito interessante este tema. E Acho que deveria de ser mais falado em portugal. As criancas devEriam de brincar mais, no fundo “serem crianças”, e cada vez mais parEce Existir uma sobrecarga horaria e de eStudos Desnecessaria para essa idade. InFelizmente, digo o mesmo sobre grandes exageros De activDades extra curriculares. Que infelizmente tambem muitas Vezes serve mais para “servirem” os pais…
    Eu vivo na india e devo dizer-lhe que embora seja um pais muito diferente da suiÇa, encontrei muitas semelhancas No Ensino no que escreveu. Gostei, Geralizando.
    Tudo de bOm.

  7. Oh ana, que bom***
    vais ver que em menos de nada as meninas estarão 100% integradas e a falar um alemão perfeito!
    beijinhos e vai contando tudo 😉
    sofia

  8. As crianças habituam-se facilmente, já nós custa mais um bocadinho 🙂 quando der por si já estão a falar alemão. Boa sorte e muita força para a adaptação!

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