[viajar com ela] e transmitir-lhe o que amamos de paixão


Durante a gravidez da Constança, falámos muito sobre o impacto da chegada de um bebé às nossas vidas, à nossa casa e a nós, enquanto casal. Tinhamos consciência de que muita coisa iria ser diferente, talvez diferente para sempre, mas era igualmente claro para nós que a nossa essência, a nossa dinâmica original, teria que permanecer intocável. Então fizemos uma lista mental, não muito grande mas não negociável, das coisas que queríamos continuar a fazer igual a antes de sermos pais. Eram apenas três ou quatro coisas, não mais, e uma delas era: viajar.

 

Quando eramos só os dois, viajavamos sempre que conseguiamos. Faziamos uma viagem grande por ano [Marrocos, México e Cuba, grávida de 12 semanas] e depois umas escapadas mais perto e mais acessíveis, não tanto quanto gostariamos mas o suficiente para satisfazer o vício e a nossa curiosidade pelo mundo. Nasceu a Constança e percebemos que, a partir do momento em que somos pais de uma bebé pequena, as coisas complicam-se [e connosco não seria diferente], mas que é precisamente por isso que não se pode desistir das coisas que gostamos. Não é uma questão puramente egoísta, é porque ter filhos também é transmitir-lhes o que amamos de paixão. E isso inclui aulas práticas.

 

Inclui sair de casa para um café, mesmo com apenas quatro dias de vida. Passear a pé, apesar do frio. Jantar fora numa noite de chuva. Festejar o São João na rua com ela a dormir no carrinho. Ou a passagem do ano em casa de amigos, permitindo que vá dormir muito mais tarde do que o costume. A verdade é que fomos percebendo que não é assim tão complicado, é uma questão de bom senso, flexibilidade e muita vontade. Ok, talvez a Constança seja uma bebé fácil, talvez tenhamos sorte. Mas a pergunta que sempre me faço é: ela é uma bebé fácil e é por isso que nós fazemos tudo isto? Ou é porque nós fazemos tudo isto que ela é facil? É a causa ou a consequência? Acho que a resposta virá com um segundo filho.

 

Sermos pais já muda a nossa vida o bastante e, de facto, seria mais fácil não a levarmos. Seria mais simples, mais barato e seguramente menos cansativo. E se, daqui a 15 dias, depois da minha filha de um ano e meio ensaiar uma birras daquelas, gritando e esperneando no chão da rua, me voltarem a fazer a pergunta, bem… eu até poderei concordar. Mas tenho a noção que perderia a enorme compensação que é a cumplicidade de viajar em família e o prazer de ser mãe de uma bebé que está tranquila e feliz porque, pura e simplesmente, está a passar tempo com exclusividade e qualidade connosco.

 

Eu sei que, quando a Constança crescer, não se vai lembrar do avião, do barco, da Grécia ou da Costa Rica. Mas acredito que, de alguma forma, são estas experiências que lhe vão dar uma certa visão do mundo, mais rica, especial, e chegará uma altura em que as viagens farão naturalmente parte do seu pequeno universo. E aí, então, viajar com ela será ainda melhor. Pelo menos gosto de pensar assim.

 

[nas ilhas gregas, em Agosto do ano passado]

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6 comentários a “[viajar com ela] e transmitir-lhe o que amamos de paixão”

  1. Estou profundamente convicta que tudo o que a tua filha vive e experiencia com os pais, num óptimo tempo de lazer e alegria (a nossa dispsição em férias é outra e é muito boa), ficará para sempre cravado dentro dela e influenciará a sua vida e a sua personalidade. Eu tenho imensas saudades das viagens que fazia em solteira e depois com o meu marido, mas as poucas viagens que fizemos depois de sermos pais levámos sempre os nossos filhos. O mais velho tem agora 4 e o bebé faz 17 meses. Marquei uma viagem para Novembro, para oferecer ao meu marido pelos 40 anos, e marquei só para nós os dois, que desde que fomos pais nunca viajámos sozinhos, mas de vez em quando penso que devia ter comprado voo para os filhotes. e sei que principalmente o mais velho iria amar! Mas foi uma decisão por nós casal, que também estamos a precisar de tempo para namorar e focarmo-nos um no outro.

  2. Sou completamente a favor de tudo o que escreveu. E praticante confessa! Adoro viajar e sempre foi o nosso maior/único vicio. Quando o Guilherme nasceu optamos por tentar manter esse vicio, muitas vezes desafio até. Com dois meses voamos para a Riviera Francesa para uma passagem de ano e com cinco para Luanda. E depois de cá estar…onde as coisas nem sempre são fáceis, nao há muito medo de arriscar outros sítios! Mais difícil nao é de certeza! Com 18 meses o Gui come de tudo e dorme em qualquer lado!! Faz viagens de carro por Africa e é um bem disposto! E será esta uma das minhas maiores heranças.. Kms pelo mundo! Como conselho, leia o Diário de Pikitim, sobre viagens com crianças!!!

  3. Adorei ler!! Todas as letras e frases mais que uma vez, quase parecia que me estava a ler a mente, pois não podia estar mais de acordo, não devemos deixar de fazer o que gostamos só porque somos mães, a nossa essência deve continuar só que com mais um membro da família…boa viagem, bons passeios, afinal Braga é linda! Beijinhos Silvia Moreira

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