Engraçado, até parece que foi preciso ficar solteira para passar a ter vida social [de segunda a sexta, claro, porque os fins de semana são passados em modo feirante de norte a sul do país]. Em Braga ou no Porto, os amigos e a família revezam-se em convites para jantar que eu vou gerindo semana a semana, assim consigo ter tempo para o meu sofá, um livro ou deitar a Constança cedo, que tem dias que vai para a cama às 8 e meia, de tão estafada que vem do colégio. Eu chego ao fim do dia cansada e sonolenta, não há vez que consiga trabalhar em casa à noite e só me pergunto como é que eu antes conseguia trabalhar umas 16 horas por dia. Estava, de facto, a enlouquecer [e a envelhecer]. Agora o tempo tem-me fugido pelos dedos e faço um esforço por ser tolerante comigo mesma face a sensação de improdutividade que de vez em quando me assola. Peço a mim própria para ter calma, só passaram umas semanas, é normal, afinal estou sozinha e foram 12 anos a trabalhar a um ritmo completamente diferente, muito mais alucinante. Penso todos os dias na grande decisão que tive a coragem e o privilégio de poder tomar e no lado positivo de tudo isto. Sei que há muita gente que gostaria de ter feito o mesmo, sei que sou afortunada e que, modéstia à parte, estou a colher os frutos do tanto que semeei. Tenho três projetos em mãos e, mal tenha tempo, agarro um quarto. São pequenos projetos do coração, da família ou dos amigos da família, remunerados através da troca de serviços, como se em tempos mercantilistas vivessemos. Levo a Constança de manhã sem muita pressa, tomo um café e geralmente pelas 10 da manhã estou no atelier. Almoço quase todos os dias com a minha irmã e uma vez por semana na avó. Semana sim, semana não, a vida estende-me um pecado, uma tentação, como se me estivesse a pôr a prova e a perguntar: é isto que queres realmente? Por momentos até fico confusa, seria fácil voltar atrás e ceder à falsa segurança de trabalhar por conta de outrém. Depois faço contas e neste meio ano foram efetivamente tantas mudanças que talvez ainda não tenha tido tempo para absorver todas: em seis meses larguei um emprego, mudei de vida, sou mãe a solo, tirei o negócio de casa, sofri uma perda, tive um enorme desgosto e uma boa nova também. O segundo semestre de 2014 promete. Talvez um novo projeto. Talvez a família cresça. Talvez uma nova casa, um novo país. E talvez mude tudo, outra vez.
4 comentários a “estes dias [depois da mudança]”
Tudo ficará bem . Parabéns pela coragem !
Amei a sua coragem Ana. Também
Me despedi do meu emprego de 15 anos, há 6 meses atrás e iniciei o meu próprio negócio . Com mais uma filha ( a 3a) sinto-me muitas vezes apreensiva sobre a decisão tomada , vejo que não estou sozinha. E acredito piamente que com garra e coragem ,
🙂 estou contigo!! 🙂 este segundo semestre é que é! 🙂
beijinhos!!
Leio este blog desde o iniciozinho…. nunca me deu para comentar!
Tenho uma menina de 18 meses, como é óbvio reconheço-nos em tantos pormenores do crescimento da Constança e desta Mãe. Delicio-me com os vossos passeios, os looks descontraídos dos Pais e mimosos da menina.
Também eu fiz nascer um negócio durante a licença de maternidade…
Partilho também algumas angústias e momentos de solidão.
E agora o meu coração deu um pulo de alegria por ver que talvez esteja a caminho um novo membro da família (?)… Parabéns!!!