A Constança está sentada no chão mas eu vejo-a turva. Percebo que as forças se estão a ir, mas insisto em continuar a caminhar. Com ela pela mão, a conversar com ela e com os outros que me olham e ao mesmo tempo não me vêem, eu já nem sei o que digo, nem bem quem sou ou o que estou a fazer naquela cave de centro comercial a cheirar a mofo e chão de alcatifa, à roda como um carrossel. Constança! eu chamo mas ela já nem me ouve. Constança! ela vira a cara na minha direção e eu percebo que as nossas identidades se fundiram, eu sou ela e ela sou eu, meus deus acho que estou a enlouquecer. Paro e miro-me na vitrine. Passo as mãos pelo cabelo, está despenteado. Estou pálida, magra, velha, doente. Rápido, vamos. E então continuo às voltas, a andar sem parar, a falar sem parar, a fugir de alguma coisa, com ela pela mão, deve ser do medo, do medo que me persegue, este medo… de morrer.

Vem-me a imagem do meu pai em flashes. Acordo lavada em lágrimas, em ranho e angústia. Quase posso tocar no que ele possa ter pensado, sentido, naqueles 4 meses, a vida a fugir-lhe entre os dedos, sem poder fazer nada. Estou confusa e baralhada. E estou sozinha.

[insónias e pesadelos, coisas de grávida ou de quem tem alguma coisa mal resolvida?]
Costa Rica com crianças

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[playlist julho #1] para dias-não

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There are 6 comments

  1. Ana Fernandes

    são dias, são fases. Ainda não comentei com ninguém mas há uns dias para cá acho que tb estou ficar cansada… sinto muita falta da minha mãe que perdi há 3 anos, e ultimamente acontece-me muito ver silhuetas parecidas com a dela e por segundos achar que final ela está ali… deve ser da necessidade daquele abraço amigo, do nosso porto seguro, qdo estamos um pouco mais desamparadas a ter de tomar decisões e mudanças de cariz mais profundo… quando tudo acalmar, passa…Beijinho, tudo de bom*

  2. Joana Lemos

    Olá, Sigo este blog há já algum tempo, sempre com vontade de deixar um comentário…mas nunca o fiz…não sei porque. Agora ao ler este post fiquei de lágrima no olho…porque de alguma forma me lembrou um período muito infeliz. E tive vontade de responder-te de imediato e dizer que essas sensações passam! Essa ansiedade, esse medo estúpido e sem sentido…tudo isso passa! O medo não nos deixa VIVER, o medo sufoca e prende-nos ao passado. O medo só existe na nossa cabeça. Faz como eu fiz, livra-te dele. Tu és um SER capaz de tudo o que te propuseres e quiseres fazer. A tu força interior e o teu poder pessoal fazem de ti uma mulher forte e destemida. Nós nunca estamos sozinhas! Deus, protege-nos SEMPRE! Acreditar com muita FÉ é muito importante, acreditar nos bons momentos que se avizinham. em que existem fases menos boas para sabermos dar o valor aos grandes momentos de felicidade. Uma gravidez é um “estado delicado” ficamos muito sensíveis fazemos de tudo um drama…De facto ter a grande responsabilidade de estar a gerar uma VIDA pode ser assustador, mas já existe uma Constância 🙂 já conseguiste uma vez. E agora consegues outra vez! Grande Beijo! Dia Feliz!

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