Até às 21 semanas, altura em que a barriga deu um pulo, quase podia dizer que não me sentia grávida. Não que eu não me sentisse, de alma e coração, a gerar um bebé dentro de mim mas a verdade é que, até então, fisicamente, não fossem as insónias [coisa que não tive na primeira gravidez], um pneuzinho extra na zona abdominal, o aumento do peito e as varizes que começaram a aparecer nas minhas pernas, não diria que estava grávida. Fazia a minha vida normal, não tinha enjoos [nunca tive], nem muito sono. Viajei uma e outra vez, andei muito a pé, montei móveis do ikea, tudo bem.
Só a meio do 2º trimestre é que a coisa mudou um bocadinho de figura, e pouco: continuava a usar toda a minha roupa [engordei bem menos do que na primeira gravidez] e continuava a sentir-me bem. Para ser honesta, muito raramente parei para pensar no assunto “bebé na minha barriga” – sim, admito, e com algum peso no consciência, que vivi muitas horas do meu dia esquecida de que estava prestes a ser mãe pela segunda vez. E assim me mantive por mais umas 10 semanas: completamente embrenhada no dia-a-dia e nas mil coisas que me ocupam a cabeça.
Entre as 30 e as 32 semanas [a menos de 2 meses do parto, portanto] fui três vezes a Lisboa e ainda me meti no avião para passar um fim-de-semana prolongado na Suíça. Sentia-me bem, mas o impacto físico do Mercadito da Carlota foi brutal e, de repente, percebi que estava mesmo grávida e muito grávida. Entrei no consultório do médico preparada para ouvir uma desanda daquelas mas safei-me: mãe rija, filha rija, tudo a rolar, tudo bem. Até que todo aquele cansaço normal de uma gravidez que andava disfarçado pela adrenalina do ritmo dos meus dias me caiu em cima, de repente e de uma vez só.
Estou de 34 semanas e desde a última semana para cá, tornou-se óbvio que o dia está a chegar. Tem momentos em que a barriga fica muito dura, principalmente à noite. A Camila mexe-se imenso, dá bem para ver pela roupa e de vez em quando sinto uma pressão no baixo ventre tão grande que parece que vou rebentar. Tenho mais necessidade de estar deitada, ainda que não tenha sono. Quando me levanto, a meio da noite, o corpo demora a reagir. Estou constipada e custa-me a respirar. E depois há a Constança… a Constança.
Não se fala muito nisso, mas uma segunda gravidez é mesmo diferente. Pelo menos comigo está a ser, talvez porque passou pouco tempo entre uma e outra ou porque tenho muitas outras coisas em que pensar. Para começar, o entusiasmo com as roupinhas baixa drasticamente, bem como o dinheiro que gastamos com elas. Não abri a enciclopédia uma vez sequer, nem tenho app no telemóvel. Não há comidinha bio e nem tantos cuidados. Nada de sestas. Aqueles momentos de ligação com o bebé de que tanto se fala [e bem] são relegados para segundo plano, ou seja, para os 5 minutos na cama antes de adormecer sempre interrompidos pela outra filha que nos chama e obrigar a levantar… pela terceira vez. O trabalho continua e a bom ritmo. O resto do mundo não liga metade à barriga e eu não ligo metade ao resto do mundo a contar as novidades. Vem aí um bebé, pois vem, mas já não é novidade.
Que horror. Escrever isto assim até me faz impressão. Às vezes penso que se não tivesse tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo, seria diferente. Ou não. Depois prometo à Camila pequenina que a vou compensar. Logo a seguir cai-me a ficha e pergunto-me como. E depois penso na Constança… Ontem falava com o Bernardo que está no outro lado do mundo e dizia que, naquele dia em que acreditamos que tudo isto seria possível, talvez estivéssemos loucos. Que fomos utópicos. Que ele faz-me falta aqui. Que não pode chegar em cima da data do parto nem pode ir embora logo a seguir. Que não é suposto. Que não aguento. Queixei-me muito, mesmo sabendo que não fui, não sou, nem serei a única a passar pelo mesmo [ou pior] e que irei, que remédio, aguentar. E depois parei de ter pena de mim própria e fui arrumar a casa e as coisas da Camila.
2014 está a ser um ano de tantas mudanças e o nascimento da Camila é [não menos importante mas] mais uma. Tudo há-de ter uma solução. E vai correr tudo bem.
[imagens do babyshower da Camila, fotografado pela Carina Oliveira, há umas semanas atrás]
8 comentários a “à segunda gravidez, tudo muda”
[…] e as minhas coisas deteve-me. Eu sei que não me iria perdoar. Por mais do que uma vez confessei aqui no blog como está a ser diferente, para mim, esta segunda gravidez. O tempo passa a correr, as […]
Olá pela segunda vez…
É incrível como estamos na mesma situação, estou grávida de 35semanas e o meu marido vem pouco antes do parto, fica para o natal e depois vai embora novamente. Às vezes penso se realmente estávamos bons da cabeça quando chegou o momento de mudar…principalmente eu! que disse que me aguentava bem com um filho de 3anos e grávida de outro. No outro dia quase que me deu um chilique porque estive quase uma hora a tentar montar uma pista de carros, e mentalmente só culpava o meu marido porque era ele que devia estar a fazer aquilo. E ao mesmo tempo pensava: mas agora sou eu que tenho que fazer…são momentos críticos, piores quando penso no meu filhote que não vê o pai à quase 2 meses e meio e que eu precisava tanto de uma massagem nos pés! E depois no meio disto tudo penso no bebé que espero…que do primeiro foi tudo tão diferente…que a situação era outra, mais “normal”… que onde foi parar a minha paciência? Pois estou literalmente sem nenhuma…mas enfim! E depois vemos histórias idênticas à nossa e sentimo-nos um pouquinho melhor por não sermos os únicos…coisa que tento me mentalizar todos os dias.
Obrigada
Catarina
Estás tão radiosa como na primeira gravidez, lembro-me bem…
E claro que sim, tudo vai correr, sempre, bem!
desta vez, vou mesmo precisar de uns dias de rotina só para mim, deixar o trabalho uns dias bons antes do parto! O cansaço é realmente diferente!!
Sem pai, e com a Ma Petite Princesse o desafio deve ser muuuito maior! Mas tenta, não duvido que todas as queridas clientes vão saber esperar 😉
beijinhos
Para mim também foi assim a minha segunda Gravidez, muito diferente da primeira que correu lindamente.
Nesta enjoei a gravidez toda, assim sendo não tinha paciência para nada no mesmo fazer enxovalda Bebé
A segunda gravidez é mesmo muito, muito diferente, em tudo. Não é pior, é mais ‘normal’. Às 40 semanas ainda pegava no carro e levava a minha filha à escola e tudo o resto com naturalidade, foi assim até ao dia do nascimento da Simone, e o parto foi espectacular!!!! Por isso:D Força!
Também senti tudo isso na minha segunda gravidez. Pelo choque por não ter sido planeada. Que não pensava o suficiente, que não me estava a ligar, que até me esquecia, que abusava. Até o nome foi escolhido muito mais tarde. Foi tão diferente. Tinha outra filha, de 2 anos, para dar atenção, mimo, colo. Quando a Teresinha nasceu o meu colo de repente chegava para as duas, já não imaginamos a vida sem ela. Tudo se encaixou e por muito caótico que seja por vezes, tudo se resolveu e continuará a resolver naturalmente. Que corra tudo bem. Vai correr.
Ana… tantas vezes penso nisso. Uma segunda gravidez nunca tem a magia da primeira. Deixa de ser novidade, há outra criança a dar atenção. Nas aulas de preparação para o parto, a enfermeira tantas vezes dizia: aproveitem bem a 1ª gravidez. Façam tudo o que têm direito. Numa 2ª vocês são uma incubadora ambulante! 🙂
Tu estás a experienciar isso, mas também toda uma nova vida. Muita força. Não és a única. Nos momentos em que duvidares da coragem, lembra-te: vamos sempre buscar forças onde parecem não existir. Tudo vai correr vem! 🙂
Um beijinho.
Ps – vê este post. E passa-o a quem te for ajudar! 🙂
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