Sei que na vida há decisões difíceis e hoje foi o dia de tomar uma. De fazer uma escolha. Talvez tenha sido uma valente teimosa [prefiro dizer uma não desistente] porque estive, até à última e depois de me ter falhado o plano B, a consumir o juízo e a tentar outras soluções, uma atrás da outra. Ocorreu-me várias as vezes meter-me no carro e ir. Arriscar. Confiar na sorte. Mas a ideia de ter um bebé num hospital qualquer, sozinha, sem o pai em Portugal, a família e as minhas coisas deteve-me. Eu sei que não me iria perdoar.
Por mais do que uma vez confessei aqui no blog como está a ser diferente, para mim, esta segunda gravidez. O tempo passa a correr, as prioridades vão-se atropelando, tudo é preparado à última da hora, com menor sentido de novidade [e menor ansiedade também]. Sei que é normal, que é muito razoável dadas as circunstâncias e nem passa pela cabeça a ideia de ser pior mãe por isso. Porém, agora que estou quase no fim, aconteceu o que eu previa: não consigo deixar de lamentar que assim tenha sido.
Estar grávida é uma experiência única e o tempo de gestação tem a sua razão de ser. Não será por acaso que a Natureza nos concede 40 semanas [na prática, mais do que 9 meses] para criar laços com o bebé, para preparar a sua chegada ao seio de um casal ou de uma família, para gerir os impactos logísticos e emocionais que isso representa, para, no fundo, lhe dar as boas vindas à vida exterior, ao mundo.
Reorganizar a casa, preparar o quarto, os armários, fazer a lista das necessidades, pensar no enxoval e nas primeiras roupas que o nosso bebé vai vestir, escolher tudo com amor, depois lavar e passar a ferro com o maior cuidado e carinho, arrumar os cabides, os saquinhos de cheiro, as cestas e cestinhas nas gavetas, tudo isto é a materialização de um comportamento perfeitamente natural na mulher que, sendo fêmea, está a fazer o ninho para a sua cria.
Pois… coisa que eu fiz com tempo e toda a minha dedicação para a Constança e não tanto para a Camila. E se esta é a minha última gravidez? Será que vou ter outra oportunidade de experienciar uma fase de vida tão maravilhosa como esta? Não sei. Apenas sei que dei o meu melhor e que fiz o que estava ao meu alcance. Procuro não me martirizar demasiado. Respirar fundo e levar as coisas com mais leveza. Como tantas vezes me disse a minha própria mãe, ser mãe é das profissões mais difíceis do mundo. Claro é. É isso e muito mais.
[imagem via The Fresh Exchange]