[a viagem à Colômbia] dias 12, 13 e 14


[dia 12 – terça-feira]

A praia parecia não nos estar destinada. Depois do episódio do resort, todos os alojamentos possíveis ou estavam cheios ou eram demasiado caros. Já estávamos quase a desistir. Mas quando regressámos do jantar, havia um recado deixado pela camareira do La Passion e nós confiámos. Era para ir. Não que não estivéssemos bem lá, era perfeito, mas ansiávamos por sol, mar e praia. Então empacotámos tudo, levantámo-nos cedíssimo, apanhamos o barco e fomos. Ai o barco. Que raio de mãe se mete numa lancha com uma criança de 5 meses ao colo? A viagem foi tão desconfortável. Uma hora abafados pelos coletes salva-vidas e sentados num banco de madeira tão estreito que nem o rabo de uma criança cabia. Mas correu bem. O mar estava calmo e as miúdas às tantas adormeceram nos nossos braços.

Recebeu-nos o dono, Pierre [mais um francês a investir no turismo colombiano]. Quando ele anuncia que estávamos perante um grande mal entendido e que não tinha quarto para nós eu nem queria acreditar. Como era possível, se nos tinham dito para vir e que fosse por 4 noites? Ai não que não, ai sim que sim, enfim, uma confusão. Mas ele queria que ficássemos e arranjou-nos uma solução: um quarto do tamanho de uma casa em cima da areia, a 50 metros de ali. Levou-nos a ver. Não era bem o que desejávamos, o caminho à noite seria escuro e era ainda mais caro. Hesitámos. Ai e tal que é caro, ai mas tem que ser porque não é meu, mas ok, eu faço-vos um desconto e arranjo-vos uma niñera. De cortesia. – Ok, chame a niñera, vamos lá tentar ter férias.

[dia 13 – quarta-feira de manhã]

Dormir em cima da praia não tem nada de romântico, a sério, é assustador. No silêncio da noite, o som do mar torna-se ensurdecedor e o vento forte agita tanto as árvores que mete medo. Cães a ladrar, barulhos esquisitos por todo o lado, esta ilha quase deserta, um terror. O Bernardo a dormir que nem uma pedra e eu encolhida na cama a pensar que tolice, sou mesmo uma menina da cidade. Mas depois há o despertar que faz valer a pena. Abrir as portadas desta enorme divisão e ter a água azul à nossa frente. Um passadiço de madeira, um barquito avermelhado, uma ilhota mais ao largo. Inspira e dá graças. É só uma vez no ano.

[dia 13 – quarta-feira de tarde]

De boutique este lugar não tem nada. As toalhas tem manchas, os lençóis são fracos, os colchões nem se fala. Não temos água quente, a electricidade é racionada e não há wi-fi, avariou [nada disto me incomoda, até agradeço; é o corte total com a rotina moderna e é bem vindo]. A zona é protegida, pertence a uma reserva natural. Mas o espaço do hotel [isto não é bem um hotel, tem 6 quartos] é agreste, vê-se que foi sendo construído logo o equipamento é incoerente, descasado e em diferentes estados de conservação. O Pierre gaba-se da sua boa pontuação na net mas o site, ele, o que diz, tudo é escandalosamente over-promissing, como eu nunca vi igual. Não vale o dinheiro que estamos a pagar e isso chateia-me.

Os estojos de toillette ficaram em terra. Cremes, champôs, escovas dos dentes, medicamentos, chupeta da Constança! tudo. Por sorte vieram as fraldas e o kit de emergência que trago sempre comigo. Para ter a nossas coisas de volta, só amanhã. As miúdas estão despidas tal é o calor. A Camila reclama com sono e eu nem sei bem onde a deitar. A Constança está loira e feliz com a enorme “piscina”, come a fruta que nunca comeu. Rio para não chorar. Finjo que sou a Brooke Shields [quem me dera] e que estou na Lagoa Azul.

A niñera veio. É venezuelana, forte e bonita. Tem três filhos crescidos e trabalha na cozinha de um hotel aqui perto. Confesso que me sinto um bocado estranha: nunca fiz isto com as minhas filhas e estou mais habituada ao papel inverso [a babysitter era eu]. Mas gostei dela. Vai voltar nos próximos dias para vigiar as sestas das duas e dar-nos um pouco de descanso.

[dia 14 – quinta-feira de manhã]

Terceiro dia sem internet. Se estão a ler este post agora é porque alguém fez do telemóvel hotspot para nós podermos marcar os voos de regresso a Bogotá. Continuamos rodeados de água e embrenhados na natureza e, agora sim, a usufruir disto. Se estivéssemos só os dois teria sido perfeito. Uma praia só para nós. Mergulhos e corais. Selvagem q.b. Mas temos as miúdas e a coisa complica-se. Por mais espírito de aventura e sentido prático que se possa ter.

O melhor é a comida. Comida local, muitos legumes, sumos de fruta e peixe fresco todos os dias. Apanham-no aqui, chega vivo e é pesado numa balança que está pendurada numa árvore. Ontem comemos robalo embrulhado numa folha verde e cozinhado ao vapor. Delicioso.


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