Esteve um pouco de sol, fez muito frio e finalmente nevou. Não foi tanto assim, já derreteu entretanto, mas o suficiente para vê-la cair bem. Pensei que gesto bonito da natureza. Indiferentes a ela, as pessoas continuaram a sua vida. Saíram a pé, curtiram o sábado nas praças e nos cafés, tudo na rua, bebés por todo o lado, uns bem pequenos nas alcofas ou nos marsúpios, outros nos carrinhos bem agasalhados. Nós fizemos o caminho do rio a pé, fomos à biblioteca das crianças, ao brunch ao sítio do costume e ao enorme café que um dia foi a sede de um banco. A Constança lá dormiu mais do que a Camila, que nessas alturas ganha o estatuto de filha única, sentada na cadeira ao meu lado. Impressionante como as duas não se parecem: uma dorme no carrinho, indiferente ao barulho; outra franze o sobrolho e grita, alto, para se fazer ouvir bem. Nesse café havia uma grande lareira acesa, uma estante cheia de livros suspensa, bancos e muitas mesas; três meninas fingiam ser gatos pelo chão, um bebé testava os pulmões, estava cheio e barulhento mas ninguém parecia incomodado. Eu até pude abrir o meu livro e, coisa inédita, ler meia dúzia de páginas. Segui o exemplo dos outros e comecei a ensinar a Camila a beber água sozinha, a por-lhe o copo sempre à mão, a habituá-la a beber sempre que quiser; há que prevenir a desidratação provocada pelo aquecimento das casas, dos transportes e dos espaços. Às 5 da tarde caiu a noite e eu, em vez de ir logo para casa, dei uma volta mais, comprei-lhe as luvas que já lhes fazem falta, resisti ao frio. Lá espirramos uma vez cada uma, as minhas mãos gelaram até me doerem, ganhei cieiro nos lábios, mas há que habituar o corpo porque a partir de amanhã, dizem, o termómetro desce para os negativos. Hoje, sonolento e cansado, o pai chegou. E elas, saudosas e excitadas, pareciam outras. Com o dobro da atenção, houve muito menos choro e gritos e colo e eu pude, finalmente, ir à casa de banho sozinha. Fim de fim-de-semana. Amanhã a partir das 6h30 há mais.
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