[escrito em 25.05.15]
O meu pai morreu. Há dias em que sinto muitas saudades dele. Há dias que acordo meia estranha, assim como se estivesse do lado de fora da minha própria vida a observar-me. Hoje é um desses dias. Dei por mim a falar-lhe alto – carro lavadinho, hein? Acho que sempre que lavo o carro me lembro dele. Tal como quando chego de um país qualquer. Era sempre ele que me ia buscar ao aeroporto – viste ontem o abraço das tuas netas? deves ter visto, viste de certeza porque és um avô babado. Ou quando muda a hora. Nunca sei quando é e até tenho de fazer contas de cabeça para saber se durmo uma hora a mais ou uma hora a menos. Também quando me perco numa estrada nacional do interior do país. Sei que se lhe ligasse, mesmo que fosse de uma estrada nacional qualquer do fim do mundo – estou sem gasolina! viro à esquerda ou à direita? – ou de uma cidade antiga da Europa – procura sempre a praça central, a partir daí entendes a cidade – ele saberia indicar-me o caminho.
O meu pai morreu. Mas agora percebo. Sinto. Sei. Que por detrás da névoa ele está sempre a indicar-me o caminho. Porque aqui ou de outro sítio qualquer – o céu existe mesmo? – existe e é azul – ele continua a ser o meu pai.
2 comentários a “do céu”
Ana, muita força. O meu pai morreu em novembro de 2011. Sinto imensas saudades dele, mas para mim ele também continua a ser o meu pai e sempre que tenho de tomar decisões penso no que ele me diria e quase sempre consigo “ouvir” a sua voz.
Sigo-a com alguma frequência e admiro muito a sua coragem. Boa sorte para a nova fase que aí vem. Tudo indica que a curto/médio prazo também irei para o mesmo país, mas uma outra cidade. Também tenho lá um lado muito importante de mim: o meu companheiro de vida.
Um grande abraço!
Como eu entendo esse sentimento. Não sou leitora assídua do seu blog, mas neste post revejo-me em tudo o que disse.